EU FALO DE AMOR.

EU ABRI A PORTA PARA A DECADÊNCIA HUMANA. CHAMEI DE AMIGA E CONVIDEI PARA O JANTAR.
FIZ PATO ASSADO.
E DEI-LHE ZURRAPA PARA BEBER. EU PODERIA TER COMPRADO COISA MELHOR, MAS NÃO QUIS.
EU SABIA MUITO BEM AONDE QUERIA CHEGAR. EU SÓ QUERIA TESTAR TODOS OS SEUS SABORES. DECADENCIA, TÃO VELHA, EU TE CONHECI. FOI NUMA NOITE. SEMPRE Á NOITE.
GOSTEI MUITO.
SENTI PRAZER. E VONTADE.
VOCÊ COME PATO COMO SE FOSSE FRANGO. AQUELES QUE TÊM FAROFA DENTRO. CHUPA AS AZEITONAS.
EU BEBO AOS POUCOS, DEGUSTANDO O SABOR DO CONCENTRADO DE UVA.
VOCÊ ME SEDUZ. E SABE COMO FAZER ISSO. MINHA ESFINGE.
CONVIDO PARA UMA PARTIDA DE XADREZ.
VOCÊ DERRRUBOU AS MINHAS DUAS TORRES, COM UM PEÃO SEU. BISPO? COMECEI SEM.
O QUE IMPERA NO MEU TABULEIRO É A RAINHA. BRILHA NO MEIO DAS PEÇAS BICOLORES. MEU CHÃO DE MARFIM.
NESSE JOGO EU NÃO GANHO. JOGO COM AS MÃOS E UMAS DEZ UNHAS COR ESCARLATE. A RAINHA NÃO SABE MOBILIZAR UM EXÉRCITO TODO, MAS SIM UNS POUCOS CAVALEIROS QUE UM DIA SERAM INFIÉIS TAMBÉM. GRAÇAS A DEUS.
- SEJA BEM VINDA DECADÊNCIA.
FOI ASSIM QUE INICIEI QUANDO VOCÊ SORRIU NA PORTA DA MINHA CASA.
VOCÊ FOI UMA VISITA QUERIDA DE ALGUMAS NOITES. VOCÊ ME SOCOU A CARA ATÉ QUE EU ENTEDESSE ALGUMAS DE SUAS SÍLABAS. ME DEIXOU MARCAS. NÃO COMO CICATRIZES, MAS COMO RUGAS NA TESTA E GOTAS DE SUOR.
SE PERGUNTAREM, DIGO QUE A CULPA É A IDADE, O EXCESSO DE TRABALHO E AS AULAS DE TANGO QUE COMECEI A FREQUENTAR. JAMAIS VOU DEDURAR MINHA AMIGA. EM TROCA, NÃO ESPALHE AS COISAS QUE JÁ FIZ AO SEU LADO.
SEGREDO NOSSO.
VOCÊ SENTA NA SACADA E ACENDE UM CIGARRO. SABE O QUE EU ACHO DISSO.
ME SEDUZ.
ELEGANTE, CONTA UMA HISTÓRIA DE CERTA NOITE COM FOGUEIRAS, PESSOAS E MUITO SEXO. SAFADA.
OUÇO FEITO CRIANÇA.
APAGA O CIGARRO NO CHÃO.
- REPAREI QUE VOCÊ NUNCA FUMA A ÚLTIMA TRAGADA. POR QUÊ?
ME OLHA, E SEGURA UMA ASSA DO PATO NA MÃO. COME LAMBUZANDO OS DEDOS E LÁBIOS. DEPOIS PALITA OS DENTES COM UM OSSO. CHUPA ATÉ SAIR O SABOR. DÁ O ÚLTIMO GOLE NO VINHO POBRE. SE LEVANTA. OLHA O TABULEIRO. ROUBA A RAINHA QUE BRILHA E GUARDA NO BOLSO DO CASACO. OLHA PRA MIM, NOS MEUS OLHOS. DÁ MEIA VOLTA E VAI EMBORA. SERIA OTIMO QUE NÃO ACABASSE. POR MAIS QUE VOCÊ ME INCOMODE. DESEJO QUE VOCÊ NÃO SE JÁ PARA SEMPRE. MAS, NEM CHEGO A PEDIR ISSO.
EXAUSTA, VOLTO PARA A MINHA POLTRONA. EM BAIXO DA MINHA TAÇA, UM BLIHETE: “SÓ PODEMOS VENCER O ADVERSÁRIO COM O AMOR, NUNCA COM O ÓDIO. APAIXONE-ME E GANHARÁ NA TERÇA-FEIRA QUE VEM. PEÇA-ME E TRAGO A RAINHA DE VOLTA”.
CAIO E CAI EM MIM A NOITE TODA.